Maria do Carmo chorava copiosamente ao lado do corpo do seu marido, o Toim Bacurim.
-Não, eu num tô acreditando que tu morreu! Pra mim tu tá é com frescura, com brincadeira! Vambora, alevanta...
-Calma, amiga...A vida é assim mesmo...Eu quando perdi o meu Nonatim, pensei que ia morrer...
-Ceiça, minha amiga, num me deixe só!Eu sei que tu também acaba de perder teu homi...
-Pois é, minha filha...eu dizia que a cachaça do Zé Alberto tava matando, mas ele num acreditava...
-O meu Toim num comia nada e era um barrigão...já era cirrose, mas ele disse que sabia beber.
E instantes depois foi chegando os amigos biriteiros do Toim. A mulher deu logo o pinote...
-Vixe, nossa senhora...os cachaceiro tudim do bairro tão aqui...vão já derrubar o caixão...
-Dona Maria, a senhora é que é a cumade que vivia com o nosso amigo Pé Inchado do Toim? Pois arreceba os “pesami” da galera toda...
-Meu senhor, eu agradeço mas nunca fui cumadi dele...eu sou esposa...nós foi casado, tendeu?
-Tudo bem, num taqui mas quem falou...Mas olhando assim pra ele, num tem quem diga que tá morto...Parece que tá é rindo...
-Nós vai sentir muita falta dele...Era um cara que nunca negou uma cana...E quando se estribava a gente bebia era tudo...
-Fale mais não, amizade...já deu vontade de tomar uma...ei, dona Maria, pode botar uma aí pra gente...
-Cumequié? Cês me respeitem, respeitem o finado...aqui né bar não, tão ouvindo? Agora se quiserem ficar aqui num abram mais a boca!
-Agora o bicho pegou...se eu num abrir a boca como é que eu vou beber? Falar nisso, prezado, bota uma aqui no copo que eu trouxe lá do bar...
E no dia seguinte, o corpo foi levado para o sepultamento. A viúva permanecia inconsolável.
Toim, meu Toim, eu vou te dar o teu celular...pode ser que lá donde tu vá ficar, sinta saudade deu e telefone...Tô enfiando ele no teu bolso, meu eterno amor...
E assim que a mulher colocou o celular no bolso do defunto, ele tocou. A mulher pediu pro Antenor atender...
-Alô...Quem tá falando?
-Mas tu num vem ver mais teus fi não, é Toim?
-Mas quem tá falndo? O Toim morreu, taqui dentro do caixão pra ser enterrado!
-Mas Toim tu num presta não...Brinca inté com a morte...mas diz quando é que tu vem aqui em casa...eu já to com tanta da saudade...
A mulher quando soube que era uma quenga, tomou o telefone e passou o esculacho...
-Escuta aqui, sua cotrovia, respeite meu marido...ele num tinha rapariga, era um homi direito...
-Tem e é você...E eu vou querer os bens, tudim o que ele deixou pros filhos que teve com eu...
A mulher se invocou, pegou a pá do coveiro e papocou no caixão quebrando bem no meio. E depois falou...
-Uma coisa que eu nunca tolerei foi traição...Pois esse raparigueiro que se enterre dentro da rede dele, porque o caixão já era....
Contam que os amigos de copo compraram um caixão e fizeram o funeral. A mulher que chorava e jurava amor eterno, já desfila com um moreno alto que dizem ser seu novo amor.